O que é uma seita?

09:07 Hadassa Moraes 0 Comments


A palavra "seita" possui vários sentidos. Pode inclusive ser usada como um insulto. Ou um elogio, já que o próprio Cristianismo foi chamado assim (confira Atos 24:5). Isso foi o que me levou a fazer esse breve texto: uma tentativa de esclarecer o sentido de um termo muito usado, mas pouco compreendido.

Teologicamente, geralmente se considera como "seita" grupos supostamente cristãos que negam doutrinas básicas do Cristianismo, como a Trindade ou a Encarnação de Cristo. Nesse caso, só existe "seita" se existe também um Cristianismo ortodoxo, um padrão de doutrina correta, contra o qual a seita se opõe. Mas se ampliarmos um pouco mais nossa perspectiva, vamos encontrar atitudes sectárias não só em grupos religiosos que não se pretendem cristãos, mas também em igrejas que creem piamente em todas as doutrinas fundamentais do Cristianismo e que, por isso mesmo, torcem o nariz quando são chamadas de "seita".

A seguir, listei algumas dessas atitudes, sem intenção de descrevê-las de forma exaustiva. Também não pretendo tentar definir o que seja uma "seita", algo talvez impossível, mas apenas tentar dar algumas características comuns a grupos religiosos (cristãos ou não) sectários. Para os buscadores da verdade, essa lista pode ser bastante útil para separar o joio do trigo:

1) Hierarquia rígida, centrada num líder ou num grupo de líderes

Todo grupo religioso possui uma hierarquia, mas nas seitas esse princípio se degrada numa forma de tirania espiritual. As decisões são todas tomadas de cima para baixo, sem diálogo com os membros e sem possibilidade de discordância, pois o líder (ou o grupo de líderes) é incontestável. Às vezes, o líder pode se colocar como o portador da revelação divina e usar essa pretensão para tornar suas decisões ainda mais indiscutíveis: afinal de contas, é Deus quem fala através dele! Às vezes, ele não chega a ser tão presunçoso, mas de qualquer forma, sempre vai controlar com mão de ferro seus subordinados e exigir deles obediência absoluta.

2) Isolamento social dos membros

O isolamento social pode chegar ao extremo de se criar uma comunidade alternativa e deslocar centenas de pessoas para lá, sem contato com seus familiares e amigos, como aconteceu com o movimento liderado pelo pastor Jim Jones. Mas também pode assumir formas mais sutis: por exemplo, a pessoa pode se envolver tanto com as atividades do grupo sectário que simplesmente passa a viver em função delas. Abdicar da vida social é o preço a pagar pelos conhecimentos e experiências que a seita tem a oferecer. Ao mesmo tempo, o envolvimento prolongado com as atividades da seita cria o hábito e, com ele, a obediência cega. 

3) Doutrinas exóticas, mas com "coerência interna"

Como o objetivo da seita é criar a submissão voluntária em seus membros, nada mais natural que apresentar a eles uma doutrina perfeitamente coerente, mas completamente maluca. A coerência interna da doutrina dá uma aparência de verdade e reforça nos membros a impressão de que aquele é o caminho correto a seguir. Porém, na prática, isso enreda a pessoa num teatrinho mental sem nenhum referencial externo. O que importa é o sentimento de pertencer a um grupo, de ter uma linguagem em comum com outros, e não a realidade que essa linguagem designa. Por outro lado, o exotismo da doutrina aumenta a impressão de que se trata de algo "esotérico", acessível a poucos, e ajuda a reforçar a identidade do grupo sectário. 

4) Lavagem cerebral

A seita procura sempre convencer sem usar muita argumentação racional: apela para o sentimentalismo, para técnicas de sugestão mental, entre outras coisas. Geralmente, ela justifica esses métodos dizendo que o conhecimento que ela tem a oferecer é algo que vai muito além da razão e que, por isso, está acima de qualquer crítica. Se a seita se basear em algum livro sagrado, geralmente fará uma interpretação enviesada, tirando frases do contexto e ignorando outros textos que possam servir como refutação para seus ensinos. No fim das contas, não importa muito o que o texto diz, pois ele é simplesmente um pretexto para a seita impor seus ensinamentos.


Rodrigo M. de Almeida

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